sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Polícia violenta não é exclusividade do Brasil

A escola do povo ensina que o papel da polícia é servir e proteger. Porém, o que vivemos diariamente são muitos excessos e abuso de poder. A cultura é tão enraizada que qualquer um que ouse questionar é prontamente rebatido com argumentos falaciosos como: 'alguma coisa deve ter aprontado', 'devia estar devendo', entre outros. Argumentos de presunção de culpa da vítima do excesso/abuso, que ferem os Direitos Humanos tão odiados pelos agressores. (Ser policial e ao mesmo tempo não ferir os direitos humanos não é impossível, mas dá muito mais trabalho).

Se alguém ousa questionar, lá vem outro argumento na ponta da língua: 'quem não gosta de polícia é bandido', colocando os policiais em um patamar de divindade! (Policial não erra?!)
Já na escola dos gestores, a definição é outra: a finalidade da polícia é defender a soberania do estado. Faz muito mais sentido não é mesmo? Proteger a população fica em segundo plano (o estado nos vende sensação de segurança, mas esse é outro assunto)

Mas de onde vem essa 'viagem' toda que eu estou dizendo? Filosofia, meus caros. Michael Foucault se deu ao trabalho de analisar diversas instituições e tirou conclusões reveladoras. Alguns dos estudos dele foram organizados por Roberto Machado no livro Microfísica do Poder.

Pena que eu só conheci filosofia muito depois da educação básica. Será então que é de propósito que cada vez temos mais carga horária de Português e Matemática e cada vez menos Filosofia e Sociologia? Eu acho que sim. Vejamos o que Roberto Machado escreveu sobre o papel do governo na introdução do livro supracitado:

"O que lhe interessa basicamente não é expulsar os homens da vida social, impedir o exercício de suas atividades, e sim gerir a vida dos homens, controlá-los em suas ações para que seja possível e viável utilizá-los ao máximo, aproveitando suas potencialidades e utilizando um sistema de aperfeiçoamento gradual e contínuo de suas capacidades. Objetivo ao mesmo tempo econômico e político: aumento do efeito do trabalho, isto é, tornar os homens força de trabalho dando-lhes uma utilidade econômica máxima; diminuição de sua capacidade de revolta, de resistência, de luta, de insurreição contra as ordens do poder, neutralização dos efeitos de contra-poder, isto é, tornar os homens dóceis politicamente. Portanto, aumentar a utilidade econômica e diminuir os inconvenientes, os perigos políticos; aumentar a força econômica e diminuir a força política."
Tornar as pessoas dóceis politicamente... soa familiar. E você, acha que somos dóceis politicamente?

Gostaria muito que no Brasil tivéssemos ativistas como os do filmingcops.com e do PoliceThePolice  mas, sinceramente, num país onde o judiciário dos três poderes é o mais fraco, eu tenho muito medo.



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Bibliografia consultada:

Roberto Machado, Por uma genealogia do poder. In Foucault, M, Microfísica do poder. 15a Ed. Graal - RJ, 2000.

 Prêmio Juíza Patrícia Acioli homenageia a magistrada da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, assassinada com 21 tiros, vítima de uma emboscada.

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